terça-feira, 3 de julho de 2012

Os Trilhos do Trem

Cruzamento de rotina.
Perigoso, no entanto.
Músicas num volume alto impediam que ela mensurasse
o risco que corria ao passar por ali.
Porém, quando despertava para a importância daquele
milésimo de segundo gasto na travessia, estremecia.
Intrigante, entretanto, era o fato daquele medo lhe proporcionar fascínio.
Sim, era fascinante contemplar duas linhas paralelas
tomando forma de um ângulo absurdamente reto quando ela as invadia,
ainda que por quase nada de tempo.
Invasão.
Sintonia.
Desafio.
Intimidade.
Tentação.
E, então... racionalidade.
Tudo tão adverso quanto a formação de um ângulo reto.
Instantes tão confusos e, ao mesmo tempo, completamente simplificados.
Havia, sim, o entendimento de que deveria ser apenas parte do hábito.
Mas havia, também, a compreensão de que manter aquele hábito pudesse resultar num vício estranho, misto de gôzo e dor.
Não.
Urgência de outra rota.
Da velha rota.
Voltar às vias que a protegiam daquele grito produzido pela máquina
de ferro, que, impiedosa e atrevidamente, rasgava seu caminho.
Música em volume ameno, agora.
Permanência mínima naquele cruzamento inevitável e que, invariavelmente, ordenava: 'pare, olhe, escute!'
Haverá, sim, outros casamentos dos trajetos com suas linhas.
Não havendo o que temer, desnecessários serão os desvios para outros atalhos.
Todavia, aquela velha e conhecida via suscita simular abnegação e constância, sempre que, cálida e perplexa, ela trespassa os trilhos do trem.

(Stella Marla - 03Mai2012)

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