domingo, 10 de agosto de 2014

Quando as almas não se tocam mais

Chega um tempo em que tudo não passa de parte de um passado bom.
A carta guardada, porque não haverá a próxima.
A música que relaciona época com fato.
E tudo que marcou um tempo e os momentos que ficaram lá, onde atos e marcas viram datas.
Talvez porque precisamos de mais que alma pra deixar em caixas, ficam lá, guardados de forma carinhosa, sagrada, secreta, mas guardados, como arquivos, pastas ou álbuns, ou tudo isso.
E isso, que era tudo, é mais nada, porque alma já não vive mais ali.
Aquelas almas, que tanto confidenciaram, planejaram e se nutriram à espreita de qualquer desafio ou dificuldade, não se tocam mais.
Seria como dizer que elas sofreram decomposição quando se pensa em elo, ligação, conexão.
É como se uma, ao cruzar com a outra, simplesmente não se reconhecessem mais.
Paradoxalmente, essas almas se transformam em corpos invisíveis um para o outro.
Então, pra que a memória traga de volta fragmentos do que um dia foi, há que se abrir aquela caixa empoeirada, emperrada e repleta de lacres que o tempo cuidadosamente arranjou.
E aquilo tudo que parecia impossível ser esquecido, 'vira página virada' de um livro rico em pedacinhos de um tempo bom.
Quando as almas não se tocam mais, esquece-se naturalmente de coisas que um dia foram de vital importância, de risco fatal extraviá-las.
Quando é alma que se desliga da outra, é imprescindível um desenlace radical, um desligamento doloroso a ponto de romper com os fios dourados que ligavam uma à outra.
É que com alma não se brinca como se pode brincar com corpo.
Alma a gente não manipula, porque almas são feitas de finas moléculas de um tecido divino, que não se compra em loja, que não se manda reformar.
E, uma vez que esses 'vestidos celestiais' passam despercebidos entre aqueles que um dia foram os protagonistas de uma história de amor, há que se admitir que essas almas não se tocam mais.
Há que se perceber que não dói mais não perceber.
Não dói mais simplesmente porque a alma se despediu, desconectou.
Traumas entre almas deixam buracos irretocáveis.
E buracos não se encaixam, não somam.
São ausência.

(Stella Marla - 28Jul2014)

domingo, 3 de agosto de 2014


Não são as linhas paralelas
que fazem as almas se encontrarem...


(Stella Marla - 03Ago2014)